Entrevista com... Prof. Raúl Bizarro

quinta-feira, 5 de março de 2009


Qual o nome e idade?
Raul, 42 anos.

Que modalidades desportivas já praticou?
Pratiquei judo, boxe e karaté.

Até que escalões?
Tudo como sénior, já comecei como sénior.

Como é que surgiu esta ligação ao Boavista?
O karaté aqui começou em Fevereiro de 87 e, na altura, veio para cá outro colega que, poucos meses depois, teve de deixar. Logo em Abril de 87 vim para cá, passou-me a pasta logo de seguida, portanto, ainda apanhei o trabalho muito no princípio. E desde aí que fiquei cá.

A impressão que a maioria das pessoas tem do karaté é aquela que passa para a opinião pública. Mas, nas palavras de um professor, o que é exactamente o karaté?
O karaté é uma modalidade de combate, como o judo, como o boxe, kickboxing, mas a diferença está mais a nível da técnica ou a nível daquilo que se insiste mais no treino diário, mas basicamente, é isso. Mais tradicional ou menos tradicional, é uma modalidade de combate.

Nunca teve de lidar com o preconceito, por ser uma modalidade de combate e poder ser considerada uma modalidade violenta?
Por acaso, não, não temos sido muito afectados por isso. Penso que não, pelo menos não me têm posto esse problema, os pais põem cá os filhos sem problema nenhum e se eventualmente isso até lhes passa pela cabeça, rapidamente eu acho que eles perdem essa ideia porque o karaté é mesmo uma modalidade, como outra qualquer. E mesmo ao nível de lesões, se compararmos, vemos que há mais lesões no futebol do que no karaté, nós temos pouquíssimas lesões.

Tem crianças e jovens de várias idades. Nunca aconteceu um dos seus alunos utilizar as técnicas do karaté numa briga de escola, entre colegas?
É possível que tenham usado, mas não é algo que me transmitam, mas é possível. É impossível, as pessoas com o treino acabam por ser condicionadas a ter determinadas acções. É impossível, só se nós ficássemos quietos e não fizesse mais nada, porque o que nós fizermos, estaremos sempre a usar o karaté, nem que seja para a gente se desviar de algum golpe.

Quais são os escalões que existem no karaté e como é feita a diferenciação?
Os escalões etários são parecidos, pode haver uma diferença nos nomes ou pode haver ligeiras diferenças nas idades mas é tudo parecido. Nós temos os infantis, os iniciados, com 10/11 anos, juvenis, 12/13, cadetes, 14/15, os juniores, 16/17, e a partir dos 18 anos, são seniores. Esta serie de idades foi definida este ano, no ano passado estes escalões eram ligeiramente diferentes, a Federação Internacional este ano fez um ajustezinho. Depois, como modalidade de combate, dentro de cada escalão, na parte dos combates, eles estão escalonados por pesos, é essa a particularidade, mas quase em todas as modalidades de combate existe a diferenciação por peso.

Mas no karaté existe também a diferenciação por cor…
Sim, as cores, tal como no judo, são escalões de progressão técnica, que existem para todas as idades. As pessoas vão evoluindo, ao longo da sua prática, e a cor do cinto vai sendo alterado conforme os anos de prática e os conhecimentos técnicos que o atleta vai adquirindo. Mas a nível competitivo isso não tem qualquer influência.

E quantos escalões técnicos existem?
São nove graduações básicas, que é o branco, amarelo, laranja, verde, azul, vermelho e o castanho tem três graus. Depois passam a cinto negro, vão evoluindo, a cor é sempre a mesma, o nível é que vai mudando.

A nível de competição, como funciona?
Nós temos essencialmente dois tipos de prova, as provas técnicas e as provas de combate. As provas técnicas o atleta tem de executar um esquema técnico e é isso mesmo que é avaliado, a qualidade da execução. Depois o adversário também faz sozinho, são pontuados e um deles ganha. Nas provas de combate, basicamente, trata-se de fazer pontos e quem fizer mais pontos ganha. Todas as competições estão divididas por idades, mas só na parte dos combates é que há divisão por pesos, na parte técnica não fazia sentido a divisão por pesos.

Como são atribuídos os pontos?
Na parte dos combates os pontos são atribuídos pelas técnicas que se vai conseguindo marcar, é um bocado como no boxe. Nós fazemos técnicas de punhos e de pernas, portanto, tentamos marcar socos e pontapés, a diferença é que nós não podemos ter contacto excessivo, não podemos magoar o colega, portanto as técnicas têm de ter algum controle. Técnicas de braços valem um ponto, técnicas de pernas, se forem no tronco valem dois, se forem na cabeça valem três, isso está um bocado ligado com o grau de dificuldade, um pontapé à cabeça é mais difícil de marcar do que um soco, é mais difícil de executar. E também está ligado à espectacularidade da modalidade. Como a modalidade muito brevemente estará nos Jogos Olímpicos, ela tem sido muito adaptada aquilo que têm sido as exigências do comité olímpico. Mesmo até ao nível das protecções que se usa, antigamente praticamente não havia protecções, era só o protector de dentes e umas luvas, agora já obrigam os atletas a usar luvas, caneleiras, está-se a equacionar o uso de uma máscara e de um protector de peito.

E aqui no Boavista, como têm sido os resultados a nível de competição?
Nós tivemos, nestes 22 anos, duas grandes fases. Tivemos uma, quando começamos, começamos do zero, tivemos um grupo de competição, tivemos algumas classificações, nada de extraordinário. Também nessa altura mesmo o próprio karaté nacional não estava tão evoluído quanto hoje. Depois, tivemos uma quebra grande aquando da construção dos ginásios do pavilhão Acácio Lello, porque momentaneamente ficamos sem ginásio, entre o acabar e todas as modalidades passarem para ali, houve um hiato de tempo que ficamos sem ginásio, depois arranjaram-nos um, mas era só às 21h, e perdemos aí muita gente. Depois, passado cerca de um ano, recuperamos bastante gente, passamos a ter à volta de 70 pessoas, deram-nos um ginásio aqui junto ao pavilhão, a aí começou uma nova fase, e a nível competitivo, foi a nossa melhor. Tivemos um atleta na selecção, tivemos muitos títulos regionais e nacionais, conseguimos fazer mesmo um trabalho muito bom. Novamente tivemos uma quebra quando foi a altura do Euro, os ginásios foram demolidos, houve também aí um hiato de tempo até termos uns ginásios provisórios nas garagens, mas o número de atletas que tínhamos passou de 70 para 20 e ainda hoje temos 25, não conseguimos recuperar o mesmo número. Esta nova fase, eu considero que ainda é arranque desde a altura do Euro, porque ainda não conseguimos recuperar o número de atletas, eu penso que é um problema que a ginástica toda tem, o número de atletas da ginástica é menos de metade do que era antes do Euro. A partir de agora, pensar em resultados, só quando conseguirmos ter matéria-prima, porque nós não temos quantidade de atletas suficiente para trabalhar nesse sentido. Recomeçamos a competição, tivemos alguns intermédios, foram fazendo algumas competições, temos agora alguns miúdos que estão a começar, mas enquanto nos mantivermos com um número tão reduzido de pessoas, obter resultados vai ser difícil.

Que faixas etárias tem aqui no Boavista?
Tudo, desde os 6 aos 47, salvo erro, é o mais velho. É impossível pensar em competir a sério com 25 atletas divididos por essas idades, não há hipótese. Nós em cada escalão agora temos três, quatro pessoas.

Quantas turmas existem?
Estamos a trabalhar com duas, uma às 17h30, que são os mais pequenos, e a partir das 19h15 temos os mais velhos.

E as turmas que faixas etárias compreendem?
Os mais pequeninos é dos 6 até aos 10, 11, que fazem a primeira hora. A classe seguinte, temos dos 10, 11, alguns, até aos tais 40 e tal anos.

Os atletas, são mais rapazes ou meninas?
Temos mais rapazes, sempre tivemos, mas isso é comum, no karaté há sempre mais rapazes. Mas também temos tido algumas meninas, e ainda temos. Se nós temos a sorte de num ano entrar um grupo de raparigas, geralmente conseguimos depois mais e consegue-se manter um grupo razoável, todos os ginásios que tiverem um grupo de raparigas, depois conseguem ir buscar depois mais, porque não tendo ninguém, é difícil depois as raparigas entrarem.

Mas tem notado um número crescente de raparigas?
Não tem variado, não temos tido grande variação. Sempre tivemos algumas, por acaso desde o inicio sempre tivemos um grupo muito inferior ao dos rapazes, mas sempre tivemos um grupinho de algumas raparigas, temos conseguimos manter, às vezes um bocadinho mais, outras vezes um bocadinho menos, mas temos conseguido sempre manter.

Quais são as principais vantagens da prática do karaté?
As principais vantagens eu acho que é praticar uma actividade física, que a meu ver é muito completa, porque as pessoas trabalham força, resistência, flexibilidade, coordenação, velocidade, praticamente trabalham todas as capacidades motoras. Depois tem outra vantagem, que paralelamente com a actividade física, tem a parte da defesa pessoal, que acaba por ser desenvolvida porque esta é uma modalidade de combate. Mesmo sendo uma modalidade de combate e uma arte marcial, as pessoas também não perdem a parte desportiva, a parte competitiva, uma vez que hoje em dia as competições de karaté são vulgares e as pessoas têm as suas competições regionais e nacionais, portanto, também não são afastadas dessa vertente. Eu penso que a principal desvantagem do karaté é, nos escalões mais baixos, por ser um modalidade muito técnica, às vezes torna-se um pouco desmotivadora para os atletas, é demasiado técnica e acaba por ser um bocado maçuda, claro que nos tentamos colmatar isso com mais alguns jogos, não dar tanto ênfase à parte técnica.

0 comentários:

Enviar um comentário

  © Blogger template The Professional Template II by Ourblogtemplates.com 2009

Back to TOP