Entrevista a Manuel Campos
sexta-feira, 30 de outubro de 2009
1 - Quais eram os seus objectivos antes de partir para Londres?
O meu principal objectivo era realizar uma prova sem falhas e assim tentar alcançar a final all-around.
O meu principal objectivo era realizar uma prova sem falhas e assim tentar alcançar a final all-around.
2 - Depois de ter passado as finais sonhou trazer a medalha?
Pela minha experiência de participação em Campeonatos do Mundo e da Europa, tenho consciência que só o facto de conseguir uma final neste tipo de competições já é uma tarefa difícil. No entanto, tratando-se de uma final e portanto, de um novo momento competitivo para os 24 ginastas apurados, digamos que tudo é possível ... E tudo é possível como? Sendo a ginástica uma modalidade em que se avalia simultaneamente a dificuldade dos elementos executados e a correcção com que os mesmos são efectuados pelos ginastas, um ginasta que faça muito difícil mas com pequenas falhas durante a execução, poderá ficar atrás de um outro que não execute elementos tão difíceis mas que os faça perfeitos! Portanto, os ginastas que conseguirem manter maior equilíbrio entre estas duas componentes (dificuldade e perfeição na execução) serão os que ficarão mais próximos das medalhas.
No meu caso, penso que qualquer atleta sonha em chegar às medalhas, no entanto, não foi com esse pensamento que fui para a final, o meu grande objectivo era realizar uma prova perfeita, ou seja executar os exercícios nos seis aparelhos sem falhas, tentando assim chegar o mais à frente possível.
3 - Quais são os teus principais objectivos para os próximos meses?
Nos próximos meses irei treinar novos elementos para incrementar a dificuldade dos meus exercícios, de modo a me tornar mais competitivo em contexto internacional. Os grandes objectivos para 2010 serão o Campeonato da Europa em abril, a Taça do Mundo em Junho (São João da Madeira) e o Campeonato do Mundo em Outubro.
4 - Participas regularmente em grandes competições. Como é estar ao mais alto nível da ginástica?
É sempre uma grande satisfação para mim, poder representar o meu país ao mais alto nível. Estar presente em grandes competições, com os melhores atletas do planeta a disputar um lugar de relevo, é motivo de grande orgulho, não só para mim enquanto atleta mas essencialmente para a Ginástica Portuguesa.
5 - Até agora, qual o momento mais marcante da tua carreira?
Esta não é uma pergunta muito fácil de responder... Tenho vários episódios que me marcaram ao longo da minha carreira desportiva, cada um com o seu significado. Vou descrever três momentos que me marcaram bastante pelo negativo, mas que no entanto me ajudaram a chegar onde cheguei como atleta. O primeiro foi em 1998, no Campeonato da Europa de Juniores, que por ter falhado 5 vezes no Cavalo com Arções (aparelho da última rotação), classifiquei-me em 25º lugar, ou seja, fiquei como reserva da Final all-around. Nessa competição bastava ter efectuado a saída no cavalo para ter estado na final. Era um campeonato em que tinha hipóteses de me classificar entre os 10 ou 15 primeiros, mas acabei por "ficar fora" da final!!!
O segundo momento foi em 2003, um mês antes do Campeonato do Mundo de qualificação Olímpica, ao competir num torneio nacional, tive uma lesão muito grave no joelho que me impediu se quer de tentar o apuramento olímpico. Fiz rotura do ligamento cruzado anterior no joelho direito. Nesse momento encontrava-me em plena forma, e o facto de não poder, se quer, tentar o apuramento olímpico por ter contraído uma lesão grave no joelho, foi para mim motivo de grande desgosto. Foi muito duro sentir que todo o trabalho de preparação que havia realizado para estar ao mais alto nível, se havia perdido num único segundo, no segundo da recepção de um salto de elevado grau de dificuldade nos Saltos de cavalo (Yurchenko empranchado com dupla pirueta). Em termos sentimentais, significou a impossibilidade de concretizar um sonho, ir aos Jogos Olímpicos (neste caso Atenas 2004).
O terceiro momento foi em 2007, no Campeonato do Mundo de qualificação para os Jogos Olímpicos (Pequim 2008). Nessa altura encontrava em plena forma desportiva, estava muito bem preparado para fazer um grande resultado desportivo. No entanto, carregava um grande peso nos ombros, o sonho de participar nos Jogos Olímpicos e a decisão de nesse ano dedicar-me exclusivamente à ginástica. Sendo a Ginástica um desporto em que a qualificação Olímpica é determinada apenas num único momento de competição de todo o ciclo Olímpico (Campeonato do Mundo anterior aos Jogos), facilmente se compreende a carga emocional que a mesma poderá provocar num atleta. Portanto, este sonho de querer estar presente nos Jogos Olímpicos, em confronto com a opção de "estagnar" a minha vida pessoal durante um ano, foram o motivo pelo qual, inconscientemente criei uma grande pressão interna sobre mim. Essa pressão do tudo ou nada, levou-me a falhar por 3 vezes durante a competição, o que me colocou em 4º reserva para os jogos Olímpicos de Pequim.
6 - Representas o Boavista há vários anos. Que ligação tens com o clube, e o que é que o Boavista significa para ti?
Eu nasci para a ginástica no Boavista! São já 21 anos de carreira a representar o Boavista. Cresci e vi crescer o Boavista enquanto clube ao longo da minha carreira desportiva! São muitos anos de convivência, muitas horas de treino naquele que já foi o melhor ginásio de Portugal (Pavilhão Dr. Acácio Lelo), muitas representações nacionais e internacionais com a bandeira de Portugal e as cores preto e branco. Olhando para tudo isto, aquilo que posso dizer é que tenho um grande orgulho em continuar a representar o Boavista dentro e fora do país...
7 - Uma mensagem a todos os adeptos boavisteiros?
Espero poder continuar a representar o nosso clube ao mais alto nível, e com isso contribuir para que o mesmo supere todas as dificuldades que tem enfrentado ao longo dos últimos anos.
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