5 Perguntas a Manuel Campos

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Quais são os teus principais objectivos para os próximos meses?

Manter-me ao mais alto nível, representar Portugal em grandes competições, e melhorar os resultados individuais e de equipa.

Participas regularmente em grandes competições. Como é estar ao mais alto nível da ginástica?
Não é tarefa fácil estar ao mais alto nível na ginástica, porque qualquer pequeno desequilíbrio pode custar um sonho. No entanto, é com uma enorme satisfação que vivo cada momento competitivo. É um enorme orgulho poder representar Portugal e o Boavista ao mais alto nível. Aliás, é para mim uma grande recompensa poder constatar que Portugal tem já uma expressão de relevo na ginástica internacional.

Ainda vais tentar os próximos Jogos Olímpicos?
Continuo a sonhar com uma presença nos Jogos Olímpicos... No entanto, essa resposta estará dependente da capacidade do meu corpo aguentar mais três anos a treinar e a competir ao mais alto nível. As minhas metas serão estabelecidas ano a ano e de acordo com a minha capacidade de me manter ao mais alto nível. Mas não coloco fora de hipótese a intenção de participar nos próximos Jogos Olímpicos.

Até agora, qual o momento mais marcante da tua carreira?
Sem dúvida, o dia em que me lesionei no joelho, o que me impediu de tentar o apuramento para os Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004. Aconteceu numa competição nacional, onde, na recepção de Saltos de Cavalo (último aparelho da competição), fiz uma ruptura total do ligamento cruzado anterior. Esta lesão impediu-me de participar no Campeonato do Mundo que se realizou cerca de 1 mês após a minha lesão, sendo este o único momento de apuramento neste ciclo Olímpico.

Representas o Boavista há vários anos. Que ligação tens com o clube, e o que é que o Boavista significa para ti?
O Boavista é como se fosse a minha segunda casa! Ainda sou do tempo em que treinávamos nas instalações do ISEF, junto à Escola Rodrigues de Freitas. Nessa altura, o Boavista ainda não tinha instalações próprias para a ginástica.
Cresci neste clube e acompanhei toda a evolução do mesmo. Lembro-me que a construção do Pavilhão Dr. Acácio Lello não só constituiu um enorme passo para as actividades amadoras do clube, mas também para evolução da Ginástica em Portugal, dado ser o melhor espaço a nível nacional da altura. Foi nesse mesmo pavilhão que durante anos treinei, estagiei e competi! Realizaram-se vários eventos, várias competições a nível nacional e internacional. O Torneio Internacional do Boavista foi um grande exemplo disso, um exemplo de sucesso para o clube e para a ginástica portuguesa, do qual eu tive a oportunidade de beneficiar enquanto atleta do clube.
Posso dizer que a construção deste pavilhão foi uma aposta muito conseguida, e agradeço por isso ao Dr. Acácio Lello pelo seu apoio que foi indispensável para a sua concretização. Dou também os meus parabéns aos funcionários, a alguns dirigentes e às equipas técnicas que foram os alicerces de todo o sucesso alcançado até então. Digamos que o Boavista tinha tudo para continuar a crescer, até que um dia, nos foi comunicado que o pavilhão seria demolido para reconstrução do estádio. Nesse momento todas as perspectivas futuras se desmoronaram, pois não havia nenhum espaço onde pudéssemos treinar. Uma vez mais, tivemos de ir para as instalações do FCDEF, actual Faculdade de Desporto, onde ainda treino.
É óbvio que a demolição do pavilhão acarretou grandes prejuízos ao nível das classes de formação e de recreação. Quanto a mim, julgo que foi um grande erro terem demolido o pavilhão sem antes construírem um novo, como estava previsto. Nesta fase sublinho o trabalho, o esforço e a persistência de alguns dirigentes na busca de alternativas para manterem funcionamento das actividades amadoras, perante todas as dificuldades que se estabeleceram. No caso da ginástica, atrevo-me mesmo a dizer que se não fosse o esforço dessas pessoas para retomar o funcionamento dos ginásios, acredito que nesta altura, nem se quer ginástica tínhamos no clube. Todos sabemos o quão difícil foi avançar com os ginásios que hoje temos no clube, mas acreditem, o que temos ainda não é o que tínhamos! O que quero dizer com estas palavras é precisamente, que mesmo com condições inferiores às anteriores, conseguiu-se voltar a criar um leque de classes bastante satisfatório. No entanto, não nos podemos enganar a nós próprios, o crescimento dessas classes e o nível das mesmas em breve estagnará, simplesmente porque as condições ainda não são as mais adequadas. Para que compreendam o panorama, eu não estou a treinar nos ginásios do Boavista porque estes não apresentam condições suficientes para a prática da modalidade ao mais alto nível. A promessa da construção de um pavilhão de competição para a ginástica, vem já desde altura em que treinava no pavilhão Dr. Acácio Lello. Muitos pensarão que estou a colocar em causa todo os esforço que foi feito para a manutenção da ginástica e de outras modalidades a funcionar no clube mas não é isso que quero dizer. Apenas sugiro que se criem condições para que futuramente haja evolução e formação de atletas ao mais alto nível. Como exemplo, volto a frisar que se não fosse o apoio do Dr. Acácio Lello, que acreditou e investiu na dinamização das actividades amadores, o clube certamente não seria lembrado como um dos maiores clubes com tradição e resultados ao nível das actividades amadoras.
Para terminar, lanço um apelo aos Boavisteiros e aos dirigentes deste clube, apostem, invistam na ginástica, porque só assim conseguirão aumentar o número de atletas, o nível dos mesmos e crescer novamente como clube. Na minha opinião, esse investimento passa pela criação de um pavilhão de competição onde se possa colocar todos os aparelhos da modalidade, o que não acontece neste momento nos ginásios em funcionamento. Talvez a construção de um pavilhão sem colunas de suporte no seu interior, com um espaço amplo e onde se pudesse colocar todos os aparelhos, fosse a alternativa mais adequada. Uma outra solução poderia ser a união de dois ginásios de modo a colocar um fosso para trabalho técnico avançado, uma pista de saltos de cavalo completa e um praticável completo, melhorando também assim, a segurança relativamente ao espaço entre os aparelhos. Esta última poderia ser uma solução a curto prazo e com menores recurso do que a anterior, mas já seria uma ajuda porque permitiria uma maior segurança no que respeita ao espaço entre os aparelhos e à colocação do conjunto completo dos aparelhos de competição. Tudo isto para dizer que nasci para o mundo da ginástica no Boavista, tenho muito orgulho nisso, mas sinto-me de certo modo "revoltado", sinto uma profunda mágoa por ver o meu clube em crise, tendo ele todas as características para estar mais forte e em perfeito crescimento.
Tenho esperança que a pouco e pouco o Boavista se liberte desta crise e que volte a crescer como dantes!

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